segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Nilson Lima - Cantor, Compositor, Produtor Musical e de Eventos Culturais.

As primeiras lembranças musicais que tenho são as músicas: Rosa, do Pixinguinha; As Rosas ao Falam, do Cartola e Sentimental Demais, do Altemar Dutra. Desde criança, em Frotaleza, comecei a cantar para família e amigos conquistando assim alguns admiradores. Mas foi na década de 1980 que dei início a minha carreira artística, participando de diversos festivais de música. No Festival de Verão de Camocim fui agraciado com o prêmio de melhor intérprete.


A carreira profissional começou a se desenvolver a partir dos bares, restaurantes e hotéis de Fortaleza onde passei também a, fazer os shows de abertura das apresentações de Tom Cavalcante e outros humoristas cearenses.

No início dos anos 1990 fui para o Rio de Janeiro levado pelo desejo de ampliar meu horizonte de cantor profissional. Morei lá de 91 à 93 trabalhando em figuração na Rede Globo. Participei do Você Decide, Rei do Gado, Mulheres de Areia e da Mini Serie Agosto. Fiquei sabendo que o Faustão estava abrindo inscrições para cantores e cantoras participarem de um quadro chamado Tente o Sucesso. Fui lá e me inscrevi. Dentre mais de 500 pessoas, e fui fazendo os testes até ficarem 4 cantores. Acabei tendo a oportunidade de cantar para todo o Brasil no programa Domingão do Faustão em agosto de 1993.
No Rio me apresentei também, em diversas casas noturnas como Vinícius Piano Bar, Sinal Verde e Encontros Cariocas.

Cheguei a Brasília no mês de novembro de 1993 e logo fiz temporada no antigo Singular Scoth Bar, em seguida participei do Projeto Nota 10 do Feitiço Mineiro, casa que sempre prestigiou meu trabalho. Os primeiros shows que assisti aqui foram: Rosa Passos, Simone Guimarães, Nilson Chaves, Celia Porto e Eduardo Rangel. Nas comemorações de 36º aniversário de Brasília fiz o show de abertura para a banda 14 Bis na Esplanada dos Ministérios.

No final da década de 1990 produzi o show Saudades e Viagens que resultou na gravação ao vivo de um CD demo.  Em 2000 montei com Célia Rabelo o espetáculo Amigos e, no ano seguinte, voltamos com o Revendo Amigos.

Pelo Projeto Temporadas Populares da Secretaria de Cultura do DF, tive a oportunidade de fazer o show de abertura para Emílio Santiago na cidade do Gama. Participei também do Projeto Arte Por Toda Parte.

Tive a honra de produzir os artistas como Rosa Passos, Zé Luiz Mazziotti e Simone Guimarães.

E como Produtor Musical do SESC, realizei shows com diversos nomes da MPB como: Vander Lee, Ednardo, Eduardo Duzek, Francis Hime, Vãnia Bastos, João Bosco, Leila Pinheiro, Elba Ramalho, Dori Caymmi, Clodo Ferreira e muitos outros.








Em 2006 gravei o meu primeiro CD intitulado “Toda Palavra” com canções amorosas, costuradas por letras simples e melodias elaboradas. O disco foi gravado no eixo Brasília-Fortaleza, “minhas terras”.




Meu mais recente trabalho foi o CD “Canção de Verão”, lançado em 2009, com releituras de clássicos inesquecíveis da MPB, além de uma composição minha em homenagem ao Cazuza,  Janela do Tempo. Esse disco teve a participação de consagrados artistas e amigos como Cláudia Telles, Leila Pinheiro, Fagner, Fátima Guedes, Marinês e a minha querida Conceição Lima.



Participei cantando nos seguintes CDs: Prêmio SESC de Música em homenagem a Brasília (2004), Colagem, de Carlinhos Jansen (2007), Daniel Junior, e Águas do Paranoá de João Feijão.

Fiz a produção executiva dos seguintes CDs: Prêmio SESC de Música (6 edições), Dedicado a Você da cantora Sheilami, Mais Me Vale Uma Canção do cantor Salomão de Pádua, o de Marcos Farias além do CDs e DVDs dos Festivais da ARPUB e da Rádio Nacional FM de Brasília.

Continuo fazendo meus shows solos e, atualmente, estou em estúdio gravando meu próximo CD. Faço parte também do Grupo 3 No Brega juntamente com André 14 Voltas e Madelon Cabral, são mais de 2 anos em cartaz com muito sucesso de público.

Brasília foi capital do rock, hoje Brasília é a capital de Todos os estilos rock, choro, clássico, samba, MPB. Hoje temos artistas de todo o Brasil fazendo aqui sua arte.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Pacatto do Alto - Músico, Cantor, Compositor e Produtor Cultural.

Cheguei a Brasília em 1970 vindo do Rio de Janeiro onde já tocava um violão meio “bossanovístico” e fazia algumas letras falando do meu desespero de trocar RJ pelo DF. Isso tudo sob a pressão do AI-5 que controlava e produção cultural e jornalística na época. Em 1979 fui convidado para trabalhar como divulgador da gravadora Polygram e esse contato com o mundo phonográfico me encantou. A convivência com Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Tom Jobim me fez sentir o desejo de  fazer música, viver de música e ser música.

Com os amigos, Fino (Liga Tripa) - bateria, Renato Cope – baixo, Tênisson Otonni – vocal, Fred Hoffman – cavaquinho e percussão e eu – vocal, violão, guitarra e letras formamos a banda Sinal de Fumaça. Uma mistura de reggae com baião e maracatu, era um ritmo estranho e ao mesmo tempo envolvente. As composições falavam do regime militar com total irreverência, da necessidade de liberdade aos vegetais fora da lei e da beleza da mulher brasileira. A nossa primeira apresentação foi no Teatro Rolla Pedra em Taguatinga no ano de 1984. Participamos do Projeto Seis e Meia abrindo para o João do Vale no Teatro da Escola Parque. Tocamos também nos teatros Galpão e Sobradinho além de outros lugares que nem me lembro mais.

Os anos se passaram e eu mudei de gravadora, indo trabalhar na EMI-Odeon e também mudei de banda. Passei então a fazer um trabalho inovador que chamo de Jazz Cerrado, a banda chama-se Pacatto Cidadão do Alto e tem se apresentado em boa parte do Brasil sempre com um público participante na troca de energia. Dividimos um grande show na sala Villa Lobos juntamente com a banda Plástica e participamos também dos projetos Ante Por Toda A Parte e Platéias.   Fizemos temporadas na Bahia, Goiás, Tocantins e Marahão.

Em 1987 me mudei para Alto Paraíso – GO onde fui Secretário de Cultura e presidente do Espaço Cultural Canto Cerrado. Também criei e produzi vários eventos dentre eles o Moonstock, Festival de Inverno da Chapada.Gravamos o disco Chapada dos Veadeiros, lá mesmo, de forma artesanal em apenas 4 canais.

Em 2008 gravamos o DVD intitulado US2 Conexão Paraíso durante apresentação em Na Lua de São Jorge, tradicional reduto cultural na região da chapada. Foi um trabalho carregado de influências regionais e tomado pela energia da Chapada dos Veadeiros. No total foram 6 Cds e 2 DVDs gravados.

Com influências do jazz, rock, reggae, bossa nova, baião, xote, samba e maracatu a banda não costuma se reunir para ensaios. Subimos no palco e tocamos o que estamos sentindo na hora. Por isso cada show é único. Isso sem abandonar o propósito de conscientizar a sociedade da sua responsabilidade pela paz mundial, o combate à violação dos direitos humanos, o novo milênio e seu compromisso  com a preservação do  ecossistema. Enfim paz, amor e alegria são os motes da Pacatto Cidadão do Alto.

Tenho o trabalho Instrumental em parceria com Júnior Tana da banda Nata Violeta e já gravamos dois CDs, um ao vivo e outro em estúdio cuso noeme é Instrumental e Tao. O tao é assim mesmo de budismo, taoísmo e essas coisas esotéricas daqui.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Mário Salimon – Cantor, Compositor, Jornalista e Cineasta.

Em 1985, iniciei uma viagem sem rumo pela estrada da música. Um quarto de século depois, o tanque ainda está cheio e o horizonte longe. Nessa estrada passei por inúmeros estilos musicais e fiz parte de bandas tanto inovadoras como caretas; umas obscuras e outras até muito conhecidas: Banda Fama, Regatta de Blanc, Undercovers, Oficina Blues, Cocina del Diablo, Another Blues Band, Soul Salad, Correio Aéreo, Unplugged, Viva Santana, BsB Disco Club, Salimon e Oduber Duo, Esfera, Le Club 80, Brasília All Star Blues Band, Orquestra Motown, Salimon e Trio Arquipélago e Wave Playground. Cada uma delas me proporcionou importantes experiências de vida, crescimento musical e grandes amigos.

Vim morar em Brasília por uma mera casualidade do destino. Eu fazia cursinho em São José do Rio Preto e havia decidido estudar jornalismo ou alguma coisa ligada à comunicação. Nesse cursinho, apresentaram-me a possibilidade de prestar vestibular na USP, na Escola Superior de Propaganda e Marketing, também em São Paulo, e na UnB. Fiz nas três escolas. Mas quando vim para fazer o vestibular em Brasília, no fim de 1983, fiquei doido com a cidade. Me lembro de ter saído da Rodoferroviária e entrado na imensidão do Eixo Monumental. Ao contemplar toda aquela amplidão, falei comigo: “É a minha cidade”. Com respeito à cidade do rock, me lembro que, na volta para São Paulo, fui no mesmo ônibus do pessoal da Plebe Rude, que ia em busca de shows. Via aquele pessoal com roupas e cabelos diferentes e percebi que aquele era o tipo de vida que queria para mim. Numa cidade que tinha uma coisa diferente. Ter vindo morar em Brasília foi decisivo para eu virar músico, o que realmente aconteceu em 1985.

Participei de umas 18 bandas de lá pra cá, mas certamente a que mais me marcou foi a Fama, a primeira, porque surgiu naquele momento de efervescência do rock de Brasília, quando agente achava que muita coisa era possível. Tínhamos aquela ilusão de que o sucesso comercial viabilizaria todos os nossos projetos de vida. Compúnhamos músicas, num som pós-Clash, com influência do funk (norte-americano). Misturávamos tudo, porque também vivi a moda discoteca, o movimento punk... Fazíamos uma música de protesto, mas para dançar, o pessoal se acabava em nossos shows.

Nasci em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Era skatista desde 1976, um roqueiro perdido numa cidade eminentemente sertaneja. No ano de 1980, virei “colegial” e fui estudar no Philadelpho Gouvêa Netto, uma escola técnica. Fazia o primeiro ano de eletrônica e meu objetivo era fabricar robôs e sintetizadores. La se abriu para mim o caminho da música. No horário de recreio, muito animado, levávamos nossos gravadores K7 - aqueles tijolões - e ficávamos intercambiando fitas, apresentando novas descobertas. Um querido amigo chamado Edmilson nos trazia sempre novidades, dentre elas bandas como Boomtown Rats, the Knack, the Vapors, OME dentre diversas outras. Nos anos seguintes, entrei em um processo de preparação e realização de um intercâmbio cultural nos Estados Unidos.

Lá, a música eletrônica se impunha e, pela primeira vez, com Don’t You Want Me do Human League, uma canção composta totalmente com sintetizadores chegou ao primeiro lugar das paradas. Depois foi Tainted Love, do Soft Cell. Minha banda favorita era Depeche Mode, apresentado pelo amigo belga Daniel David. O disco de estréia, Speakand Spell, trazia rock, disco e outras propostas que não saberia rotular naquele tempo, mas que batiam um bolão no meu walkman.


Naquele tempo fui a shows do Queen, Elton John, Van Hallen, Rick Wakeman e até Black Sabbath, mas as bandas eletrônicas ainda viviam em um circuito um tanto restrito. Ainda naquela época, passei a ouvir jazz, começando pela beirada mais pop. Comecei a gostar do gênero, a ponto de decorar todos os solos dos discos Voyeur de David Sanborn e Winelight  do Grover Washington Jr.

Voltando para Rio Preto, em 1983, estava disposto a montar uma banda a qualquer custo. Para minha alegria, reencontrei o amigo Edmilson e descobri que ele havia aprendido a tocar guitarra e capitaneava uma banda de punk rock chamada Dívida Externa. Ele reclamou da safra de letras e, como sabia que eu me entendia poeta desde pequeno, pediu algumas propostas. Fiquei animado por poder, pelo menos, andar com aquela turma.

Em 1984, vim para Brasília estudar e participei do momento histórico em que as bandas de rock locais começaram a obter contratos com as grandes gravadoras do Rio. Meus amigos eram amigos de músicos e íamos a festinhas com som mecânico e PAs improvisados, onde a gente dançava muito mesmo.

Eu tinha que fazer parte daquilo de alguma maneira e comecei a marcar presença nos ensaios da turma do Edmilson sempre que ia a Rio Preto, em feriados ou nas férias. Levava minhas letras, mas o vocalista nunca aparecia, o que me frustrava.

Junião Espinha e Flávio De Matteis, dois grandes skatistas, eram baterista e baixista da banda. Alcides “Neno” assumiu o teclado e Edmilson Ferrari comandava o grupo com sua guitarra Berger, conhecida como "tatuzinho". Eu assumi o vocal por falta de capacidade para outra função, além de contribuir com algumas composições. Nascia o Fome de Viver, que tinha como intenção ancorar em algum ponto entre o Clash e o Style Council.

Tudo acontecia nos feriados e férias. Havíamos decidido montar a banda em dezembro de 1984 e, no meio do ano seguinte já estávamos inscritos em um festival, promovido pela FM local Onda Nova, em que acabamos amealhando o terceiro lugar. O tempo foi passando e o assunto foi ficando sério, assim como as dificuldades enfrentadas para mantermos a banda de pé.

O primeiro show da banda em Rio Preto e minha primeira aparição em palco, em 1985, coincidiram com a presença de Paulo Cesar Cascão na cidade, por ocasião de uma das edições do renomado Festival de Teatro Amador. Ronaldo, “Bolão” e Natinho também estiveram conosco naquele momento importante e começaram a nos instigar a radicar a banda em Brasília. Cascão capitaneava o Detrito Federal e conhecia meio mundo no DF, o que significa acesso a mais do que a galera do Plano Piloto, da famosa colina. Rapidamente, esquematizou um conjunto de atividades que nos colocaria na rádio, nos shows de rua e na imprensa da capital federal.

Comecei a campanha com um aperto no peito, pois sabia que a mudança significaria um racha na banda. Flávio não poderia se mudar com família e tudo para arriscar a vida. Tinha emprego concursado. Neno não deixaria seu mundo riopretense, inclusive porque tinha responsabilidades familiares. Mas eu acreditava muito no nosso som.


Botei pilha até que Edmilson deixou o emprego de bancário em Rio Preto, a querida mãe e a avó para vir para Brasília. E a barra não era fácil por lá, pois levávamos pedradas dos sertanejos e dos metaleiros por tocarmos funk e reggae. 


Fama: Hélio Franco, Ed Ferrari, José Armando, Resende, Gustavo Vasconcellos e Mário Salimon.













(foto: Cesar Mendes)

Edmilson veio e, como sempre tive muitos amigos, cada qual ajudou como pode na chegada do amigo. Lembro-me que, em certa fase, ele tocava guitarra em um programa infantil. Com Henrique Hermeto, arranjavam e programavam a bateria, sendo que os dois se revezavam na guitarra e no baixo, enquanto convidados e crianças cantavam aquele repertório bastante interessante.

Com a intermediação de Cascão, fomos montando a banda por aqui e fazendo público. O primeiro a embarcar foi José Armando “Dedé” de Resende, um baixista de primeira categoria, sério o suficiente para assumir o legado de Flávio. Dedé era um slapper também, mas ouvia muita variedade e coloria suas levadas com que aprendia de música africana, caribenha etc. Como minha parte do sacrifício pela vinda da banda, saí do apartamento que dividia com meu amigo Marcial Barrionuevo, e no qual vivia muito confortavelmente, para morar com Edmilson e outros dois chapas em uma kitchenette de lascar, em uma das quadras mais agitadas da Asa Norte. Ali mesmo, ensaiávamos com os precários meios de que dispúnhamos. Eu tinha uma banda e ensaiava quase todo dia. A música era parte relevante de minha vida e não algo que acontecia na televisão.

A 209 norte era, como disse, muito movimentada. Além da padaria, do mercadinho, da sorveteria e de nem me lembro quantos botecos, havia o Mistura Fina e o Bar do Divino. O primeiro, um reduto jazzista da cidade e o outro um ponto de perdedores de todo tipo, mas de propriedade de um tipo muito simpático, que dava nome ao recinto. Divino logo se interessou pelos nossos projetos e fizemos uma simbiose. Ele cedia o subterrâneo do bar para nossos ensaios de tarde, quando a cozinha estava parada, e, à noite, tocávamos de graça para um público atônito de meia dúzia de pinguços.

Mas isso foi mudando e, logo já havíamos transformado o local em sucursal da faculdade de comunicação da UnB. Incrível como eram simples e animadas aquelas noites. Havia muitos poetas no grupo, vários músicos, fotógrafos e gente performática. Não me lembro de qualquer problema naqueles poucos meses em que nos aboletamos por ali.
Foi ainda naquele underground do Bar do Divino que fizemos uma audição tripla com o guitarrista Henrique Hermeto, o percussionista Hélio Franco e o baterista Gustavo Vasconcellos. Na verdade, acho que eles é que nos testaram, pois éramos muito verdes naquele tempo. Henrique e Hélio vinham do racha da banda Obina Shock, cheios de experiência profissional e o swing necessário para embasar nossas composições. Gustavo tinha história com bandas de rock locais, dentre elas SQS e Burguesia Decadente, tendo, de primeira, conseguido levar o bumbo de Dance Floor, condição fundamental para entrar na banda.

Nessa época, começamos a tocar em festas e eventos políticos da UnB, conquistando um público cativo que nos seguia pelos bares da cidade. O primeiro show em Brasília – com palco, PA e público grande, foi em 7 de julho de 1987, no movimento pela Rádio UnB. Depois veio o I FLAAC (Festival Latino-americano de Arte e Cultura).

A imprensa local estava atenta às novidades sonoras e quis ouvir nosso som. Irlam Rocha Lima levantou a lebre no Correio Braziliense, depois veio Rodrigo Leitão que, não só falava da banda, mas com a banda, dando conselhos e nos repreendendo pelo que achava errado em nosso comportamento. Celso Araújo escrevia matérias inspiradas sobre a banda e nos deixava animados, pensando que tínhamos mesmo algo a dizer se aquele cara tão interessante ligava para nossa música.

O radialista Tenisson Otoni teve papel importante na história do Fama, dando voz e espaço radiofônico à banda em seus tempos de rádio Atlântida FM. Era uma maravilha ouvir nosso som tocando no rádio, com aquele efeito todo especial causado pela compressão e som morno dos hi-fis.

Começava 1988 e a banda tinha nome na cidade e era considerada uma revelação. Prometia um futuro e era chamada para festas, saraus e shows ao ar livre em todas as partes. O ano se iniciava com um convite para um especial na TV Nacional e também shows em Belo Horizonte, onde tocamos para meia dúzia de gatos pintados no Cabaré Mineiro, no mesmo palco em que pisaram Joe Pass e Milton Nascimento. Fomos de ônibus, com dinheiro para uma refeição por dia. Mas íamos fazer shows “fora” e aquilo poderia nos colocar em outras esferas. Estávamos animados.

Na esteira desse modesto sucesso, resolvemos gravar uma nova demo e tentar espaço em rádios de São Paulo e Rio. Era o estúdio do Andi ou nada. Esse cara sabia das coisas e tinha feito a vida de vários principiantes. Resolvemos gravar Dance Floor, Curva 88 e Decisão Funk, que representavam o lado mais dançante do Fama.

Rumamos, eu, Edmilson e o amigo riopretense David, para o Rio de Janeiro, num pretenso tour de force promocional. Pedro Ernesto, que era um cara cheio de conexões na cidade, nos facilitou uma visita ao apartamento de Hermano Vianna, irmão do Paralama Herbert. Foi um papo ótimo e ficamos cheios de esperança. Mas, no final das contas, nada aconteceu. Não encontramos o Herbert, a Rádio Fluminense nunca tocou nossa fita e só não foi pior porque viajar para o Rio era sempre uma maravilha naquele tempo.

Havia também o misto de bar, restaurante e casa de shows chamado Bom Demais e sua dona, Cristina Roberto. O Bom Demais foi uma história à parte na vida da banda Fama e das que vieram logo depois. Foi ali que fizemos o maior número de shows da carreira curta e grossa de dois anos. Era ali que o povo dançava sem parar ao som dos funks e dos raps que eu improvisava até a mão direita do Edmilson cansar de subir e descer nos riffs, à moda de Nile Rodgers.

Ali começamos junto com Cássia Eller, Rubi e Adriano Faquini. Ali vimos brigas com cadeiras voando e sangue no chão, baculejos da policia e amantes se encontrando, beijando-se nos cantos escuros do bar. Ali fiz o primeiro – e talvez único, show numa segunda feira, no aniversário de 100 anos da abolição. Cantamos Curva 88 para um público animado, casa lotada, numa noite memorável. Cristina foi uma amiga da banda. Quando o dinheiro fluía bem, recebíamos um bom pagamento. Quando a coisa apertava, a panqueca era grátis durante uma semana e íamos almoçar por lá todos os dias.

No meio de 1988, fomos a São Paulo para dois shows que havíamos cavado, em um buraco chamado Espaço Alquimia e no teatro Mambembe. Em 29 de dezembro de 88, fizemos um show histórico no Aeroanta, em São Paulo. Casa lotada, muita gente de Rio Preto estava lá para nos ver. Foi uma festa. Tocamos repertório novo e levamos, pela primeira vez, tecladista. Como Hélio havia se retirado da banda, foi substituído pelo amigo Sérgio "Tida" Couto, que levou a esposa Claudinha Otero, com quem já havíamos gravado em estúdio. Também estava conosco, naquela ocasião, o saxofonista Alexandre "Maionese", que mandou muito bem, sobretudo em Dance Floor. Demos nosso recado e fomos embora, deixando isca para um próximo show em Sampa, em fevereiro, no SESC Pompéia. Dedé deixou a banda, alegando ter que se concentrar nos estudos. O casal Tida e Claudinha, a quem agradecemos muto pela força, também seguiu seu caminho próprio, de modo que voltamos a uma formação mais simples e a uma realidade mais dura.

Com a saída de Dedé, entrou na banda uma figura que teve grande importância na minha história de músico: o baixista Geraldo Horta. Geraldo e eu nos conhecemos nos palcos da cidade em um tempo em que a atividade musical era constante, subsidiada e prestigiada, tanto pelos policymakers como pelo público. Ele tocava muito bem o baixo e gostava de arranjar. Baixava em nossa kit tarde da noite cheio de ideias e nos mostrava onde estávamos errando. Ele queria muito ser parte do Fama, mas tínhamos o Dedé, com quem a coisa funcionava muito bem. Quando isso mudou, partimos para a colaboração com Geraldo, com quem as coisas seriam um pouco diferentes. Ele se esforçava para casar mais baixo e bateria e colava os bumbos com as linhas do baixo, gerando um ritmo forte. Também tinha um conhecimento da teoria musical muito superior ao nosso, sobretudo o meu, que era zero, de modo que também mexia nas harmonias e dava palpite na parte vocal.

A primeira tarefa de Geraldo foi encarar o show no SESC Pompéia, no qual dividiríamos a cena com dois iniciantes como nós: Ed Motta e Conexão Japeri, do Rio e Taíde  e DJ Hum, prata da casa. Ed Mota era pouco conhecido, mas tinha contrato e pedigree, além de ser muito melhor do que nós em vários quesitos. A dupla de hip hop paulistana também prometia e ficamos felizes por ver que estávamos chegando a algum lugar de vulto. Mas, na verdade, estávamos era chegando ao fim, pois íamos nos deparar com a dura realidade do mercado: não basta ser bom para ter sucesso.

Em fevereiro de 1989, batemos para São Paulo com Hélio na percussão e Maionese no sax. Geraldo estava mais do que pronto e Edmilson conhecia sua parte de olhos fechados. O Fama arrebentou naquela noite, arrancando aplausos sinceros entre as músicas. O som estava ótimo, a banda se portou com desenvoltura no palco de quase 360 graus e o público ficou várias vezes de pé para aplaudir as composições próprias que tocamos, além de uma ou outra redenção a Chic, Sade Adou e Jorge Ben.

Nosso sonho era que alguém da imprensa estivesse ali para ver e registrar, e isso, de fato aconteceu. Não somente havia imprensa como era a Biz, a maior revista de música do Brasil. E ela desceu o cacete em nosso show, chamando-me de cantor de botequim e outras barbaridades do gênero. Minha raiva foi tanta que nunca mais fui capaz de me lembrar do nome do crítico.

Disseram-me que ficasse tranquilo, que a opinião dele não contava porque era "uma pessoa recalcada, eum insatisfeito com a vida", mas sofremos muito com aquilo. Todo nosso trabalho, o reconhecimento do público, os aplausos, resumidos a uma crítica insossa e grossa. Mas, como dizia, essa era a dura realidade da música.

Geraldo logo colocou suas conexões a serviço da banda e começamos a buscar outras possibilidades. Fomos fazer show no Gilberto Salomão, num tal de Bar Bacalhau, onde ficamos por um longa temporada. Ali comecei a ver aqua vida de música não era um mar de rosas. Para tocar sempre, o cachê baixava. E ficar a noite significava risco. Brigas, ofensas e sacanagens profissionais eram a base desse métier. Um dia, nesse bar, estava cantando quando um palhaço pegou o estande do microfone e o agitou, fazendo com que o metal batesse na minha boca, machucando meu lábio e lascando um dente. Também costumávamos ser ludibriados por pseudo empresários que nos prometiam mundo e fundos e viviam na aba da banda, bebendo e comendo, às custas de nossa energia de menino novo. Logo vimos como isso funcionava e demos um jeito de ser mais seletivos.

No final das contas, Gustavo e eu vimos que nós mesmos podíamos fazer o serviço mais ou menos que a cidade pedia de um produtor. Tínhamos um esquema até bastante profissional e imprensa nos elogiava pela qualidade do material que oferecíamos a eles. Mas o entusiasmo ia baixando e cada qual começava a repensar seu papel e suas expectativas com o fama.

A bomba final, o tiro de misericórdia, viria lá por julho na forma de uma das mais comuns práticas do mundo político, o nepotismo. Tendo feito boa presença no primeiro FLAAC, fizemos nossa inscrição na segunda edição e fomos selecionados para abrir o show dos Paralamas do Sucesso no Ginásio Nilson Nelson. Essa seria nossa grande cartada, o merecido reconhecimento por todo o esforço que vínhamos fazendo. Hebert já sabia de nossa existência pelo esforço do irmão Hermano e de nosso amigo de longa data Phelippe Seabra. Era tudo ou nada, make or break. Só que outro grupo vinha batalhando seu espaço no mercado e era liderado pelo filho da secretária de cultura. Um amigo jornalista me liga, muito chateado, e dá a notícia, que soa como uma sentença de morte: "vocês não vão mais abrir o show dos Paralamas. O Pierre conseguiu pôr a banda dele no lugar do Fama".

Depois disso, começamos a brigar o tempo todo. Eu comecei a pensar em ser mesmo jornalista e esquecer a música. Gustavo resolveu mudar para Campinas e Edmilson quis ir estudar no interior de São Paulo. Hélio era mais velho, casado e estava de saco cheio desse vai e vem. Nem quis ir ao show de despedida do Fama. Acho que o mesmo se passou com o Dedé, que aceitou, entretanto, fazer um último show com a banda.

O dia 8 de agosto de 1989 foi muito tranquilo. Tudo correu mais ou menos como previsto e o Fama subiu pela última vez ao palco, montado ao ar livre na Universidade de Brasília. A lua estava muito bonita e Edmilson fez um solo sentido em Dos Quadros. Dizo Dalmoro, colega do curso de jornalismo, veio comentar que ficara emocionado com aquele momento mágico. Dedé swingou o baixo o quanto pôde e eu me esforcei para ficar no tom.

O público dançou muito, como sempre acontecia nos shows do Fama. Final e ironicamente, havíamos conseguido aliciar um bom tecladista, o que fazia uma grande diferença em nosso som, Marquinhos Brito, hoje escudeiro de Ivan Lins, nos EUA. Preenchendo cada espaço com um Yamaha CP que estava por ali e um sintetizador, fez por nós uma concessão, um favor e, por isso, agradeço. Pelo menos em dois shows, tivemos tecladista.


Cada qual foi para seu canto mas, o que me parece ser mais importante, a amizade e o respeito, perduram até hoje. E sempre acho alguém que se lembre do Fama e pergunte: "você é aquele cara do chapéu?" também tem gente que me vê e diz "3,4", como nas chamadas de converção de uma das canções que tocávamos, chamada Ben Funk.

E mesmo nestes tempos modernos, dos weblogs, alguém como Marden Ferreira, que, para mim, é um dos melhores escritores de nossa geração, prestigia o Fama em seu site, lembrando de nós e daqueles tempos. Eu me sinto feliz de ter feito parte dessa história, de ter convivido com essas pessoas que lhes apresentei. Tive mais alegrias que tristezas com essa banda e, por isso, quis escrever este texto. Não vou esquecer a banda Fama e meus companheiros de palco entre 1985 e 1989.

Na sequência do Fama, engatei uma carreira bastante variada, em que a música foi dando lugar, no curso de quase um quarto de século, ao jornalismo, aos estudos e consultorias ligados ao mundo das organizações, bem como ao cinema, hoje uma atividade muito presente em minha vida. Nunca deixei de cantar e compor, mas hoje vivo a música de uma forma menos sonhadora e um pouco distante dos bares de outrora. Em anos recentes, estive envolvido no projeto Wave Playground, que vai se montando entre Brasília e Nova Iorque, em idas e vindas de aviões e bytes que conectam meus experimentos com os de meu amigo Paulo Laboissiere. Também estou compondo com meus amigos Marcelo Feijó, Kiko Peres e Fabrizio Michels, indo de música experimental eletrônica ao som disco, sem deixar de lado meu velho amigo rock and roll.

Sinto que estou ainda no meio de algo que vai longe. Meu encontro com esta capital de muitas artes e sons, equivocadamente reduzida a simples capital do rock, rendeu e ainda renderá muitos frutos.

Wave Playgorund

WAVE PLAYGROUND

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ted Amorim – Músico, Compositor e Cineasta.


“EU GOSTO DE ROCK. E POUCA COISA MAIS!”
Pelo que eu estou ciente, meus primeiros anos de vida foi num lugar chamado Parque Industrial Mignone, a uns 35, 40 minutos de ônibus da capital Brasília. Neste parque industrial, morávamos nas amplas instalações de uma fábrica de ladrilhos falida - com área administrativa e galpão de produção numa mesma construção - que meu pai transformou em residência. O amplo terreno da fábrica virou área de hortaliças e criadouro de galinhas e porcos. Moramos lá por um uns cinco anos, acho eu, pois meu primeiro ano escolar foi em Taguatinga-DF, na Escola Classe Nº. 10.
As lembranças musicais mais antigas que tenho vêm das "festas" semanais que meus três primos, jovens então, faziam em Taguatinga Sul no início dos anos 1970. Eles tinham uma turma grande de amigos, músicos amadores, apreciadores de álcool e reacionários que se reuniam para ouvir música, beber, dançar e sei lá o que mais. Em tais festas, que começavam sábado à tarde, e imagino, deviam continuar até a manhã de domingo, eu tinha permissão de ficar por ali até perto das 19:00h.
Foi naquelas "festas" que eu tive contato com músicos e bandas que normalmente não tocavam no rádio da minha casa e nem estavam nos discos compactos que meu irmão e minhas irmãs ouviam. Permanecem em minha memória musical, Jefferson Airplane, The Kinks, Jimmi Hendrix, The Doors, Velvet Underground, The Who, Manfred Mann... Todos eles, em algumas canções, mexiam comigo, me davam uma sensação de estranheza que eu gostava. E eu ouvia pelo prazer de ouvir, Paul Simon & Garfunkel, Mutantes, Chuck Berry, The Beatles (que eu achava que não era Rock), Caetano Veloso e Gilberto Gil tropicalistas, Aretha Franklin, Eddie Cochran, os discos compactos dos meus irmãos e quase tudo que tocava à noite nas rádios AM Excelsior, Difusora e Mundial...
No quarto ano escolar, no Colégio de Taguatinga Sul, tínhamos a opção extraclasse de estudar Artes Industriais ou Música. Optei por Música, com o talentoso Maestro Edgar e com o Professor Jerusalém, o homem dos instrumentos de corda. O Professor Jerusalém me fez aprender os acordes básicos e a tocar uma dúzia de músicas no violão em menos de um mês! Já com o Maestro Edgar o processo foi penoso. O objetivo dele era montar uma banda de palhetas, metais e percussão.
Recebi para tocar um instrumento chamado Requinta, muito agudo, feminino, com partituras cheias de trinados. Um mês soprando aquele instrumento me tirou totalmente a vontade de tocar. O Maestro Edgar me passou para o Clarinete, o irmão mais velho da Requinta. As partituras eram um pouco melhores e, de vez em quando, em alguns trechos, as melodias até faziam sentido. Também não me adaptei ao tal do Clarinete.
Pedi para tocar Sax Alto e fui atendido com a advertência de que a banda seria remodelada para quartetos e eu seria o solista do meu Quarteto. Assim, eu teria que estudar muito o instrumento, me esmerar, decorar partituras, etc... Foi ótimo. Participei de um Encontro Nacional de Quartetos solando "Pomp And Circunstance" de Edward Elgar, no Teatro Nacional de Brasília.  Na apresentação, apesar de eu estar totalmente inseguro e trêmulo diante da plateia e dos músicos de verdade ali presentes, não fiz vexame. Mas não demorou muito para eu perder o tesão por instrumentos de sopro. Instrumentos de sopro no Rock And Roll, quando participam, aparecem em trechinhos e não fazem parte da "Tríade Instrumental Sagrada do Rock": Bateria, Baixo e Guitarra.
Não me lembro extamente qual foi o primeiro show musical ou de Rock que assisti. Lembro-me vagamente do Rock Cerrado-DF, em 1981, com Walter Franco, Rita Lee, Raul Seixas, e etc. Gostei muito do Walter Franco gritando "CANALHA!!!!!". Recordo-me de um show da então iniciante banda Barão Vermelho, no Cine Drive-In de Brasília, em 1982. Foi num domingo à tarde com um público de umas 20 pessoas: eu, dois amigos meus e mais uma dúzia e meia de garotos e garotas. Show morninho, o segundo guitarrista estava gripado e com febre. Ganhei a palheta do baixista Dé (André Cunha) de presente.
Entre 1980 e 1982, estive em dezenas de shows no DF e fora do DF. Eu assistia qualquer show que fosse na tônica do Rock para comparar com que o eu estava querendo fazer. Eu estava numa viagem musical diferente e estava aflito porque o Punk Rock estava praticamente morto no Reino Unido e nos EUA. A "música disco" (discotheque) tinha estragado a trilha sonora da minha vida nos últimos anos e já estava surgindo uma música rotulada de "New Wave", que para mim é subproduto da "Era Disco".
O fato de eu partir para o Baixo Elétrico, querer compor e tocar Rock, deve-se ao disco "Bringing It All Back Home" de Bob Dylan, ao guitarrista Mozart Carmo (hoje um luthier excelente) e ao baixista Nema Antunes (atualmente um dos melhores do Brasil).  O citado disco do Bob Dylan, foi "purchased X-Mas 1965" e enviado por "Ray Nitta, from Sacramento, California, to Hermenegildo, nickname Bené" (conforme está escrito com caneta azul na contracapa).
O Bené, na época, era muito parecido fisicamente com Bob Dylan, era tocador de violão, apreciador de álcool e grande amigo do meu irmão mais velho. Eu já era "garotão" tocando violão nas rodas de amigos. Então, ele me presenteou com o "Bringing It All Back Home" e  disse: - "Você é um garoto muito esperto. Só quem é esperto  entende o Bob (Dylan). Se você não entende, vai entender. Escuta esse disco, bicho. Chama uns bichos aí e vamos montar um conjunto de Rock. Você faz as músicas e eu canto". Umas duas semanas depois o Bené foi assassinado em Goiânia, durante uma degustação intensiva de cachaça goiana.
Bem, depois de  ouvir o disco várias vezes, ler e saber mais sobre Dylan, tudo mudou na minha cabeça. Minhas atitudes, meu comportamento, minhas preferências literárias, minha turma de amigos, minha visão da vida, meus objetivos e minha lista de heróis se alteraram para sempre.
O disco de Bob Dylan permanece quase que como no dia que eu o recebi de presente, preservado no meu "Armário do Futuro". O "Armário do Futuro" é o local onde guardo todos os registros, souvenirs, recortes, gravações demos, rascunhos, cartões postais, anotações, lembranças de amigos, autógrafos, ingressos de shows, filipetas, posters, fotos, recordações e "que tais" relacionados com a minha convivência com o Rock.
Confesso que, apesar de eu gostar muito dos discos de Bob Dylan e da "verve dylanesca", de ser um admirador apaixonado das canções que ele compôs e ainda compõe, nunca compus nada parecido com estilo dele e nem tenho identidade musical com tal estilo.
Quanto ao Mozart e ao Nema, eles ensaiavam um repertório pop-rock numa casa na antiga Vila Matias de Taguatinga, todos os dias. Eu,  pelo menos umas duas vezes por semana, ia vê-los tocar. Lembro-me da recomendação do Mozart: - "Pode assistir, mas não mexa em nada, tá bom?" O fato é que, num dos ensaios, eu percebi, vendo o Mozart tocar que, para atingir aquele nível de conhecimento e técnica na guitarra, eu teria que estudar direto uns bons anos. Isto me desanimou de ser guitarrista: - "Quando eu puder tocar assim, já estarei 'velho', como ele!" Por outro lado, vendo a tranquilidade do Nema tocando o baixo, a ausência de solos mirabolantes e ouvindo o pulsar grave, pensei: - "Tem mais a ver, é mais rápido de aprender e não tem pedais de efeitos para ficar acionando e desacionando o tempo todo." Decidi então montar minha própria banda, com minhas próprias músicas e tocar o baixo elétrico.

Montei a minha primeira banda com instrumentos baratos, de segunda mão, e ensaiávamos no quintal da minha casa na SHIS Sul de Taguatinga. Compus seis músicas para começar e nos chamávamos "Urbanossaurus": Cássio Moreira nos vocais, dois "joãozinhos" (um João na guitarra, outro João na bateria) e eu no baixo. Rendeu uns oito shows e a banda acabou quando um outro guitarrista entrou na banda para substituir o Joãozinho da guitarra, que havia abandonado o projeto. O novo guitarrista era, e é, um excelente músico, mas também era um grande apreciador de bebidas alcóolicas e, bêbado, estragou um show do “Urbanossaurus” na Praça do DI. Todo mundo brigou com todo mundo e fim.
A seguir, depois de tocar aqui e ali em bandas alheias, montei o "Monavox & O PBX", influenciado por uma bela cantora, a qual veio a ser minha namorada e continuou comigo por mais de um ano depois do fim da banda. Gravamos demo-tapes no Estúdio Bemol-BH (era o estúdio da moda para nós do DF), tocamos bastante em feiras de música, Teatro Galpão, auditórios de escolas, semanas de arte e cultura, e o ápice e fim da banda foi no Rock In Prima, no extinto Clube Primavera. Lá estavam as bandas brasileiras daquele momento: Magazine, Eletrodomésticos, Absintho, Degradée... entre outras que não me lembro os nomes. Eu pedi para sair da banda porque eu percebi que estava numa banda tipo as que citei acima... e eu estava compondo e tocando New Wave!!!
Meses depois, convidei o guitarrista Ney Robson para tocar comigo num projeto onde teríamos boas canções, bons arranjos e teríamos a melhor atitude Rock And Roll possível. Surgiu então o grupo "Clones de Ludwig" (o Ludwig pronuncia-se "ludvig", assim como Krafwerk pronuncia-se "krêftverk"), que durou um tempo impreciso na minha memória. Ensaiávamos no nosso estúdio na chamada "Rua da Alegria" e cedíamos o espaço para a outra banda do Ney Robson, a "Terceira Divisão", que fazia um "Mod Rock" bem cru e sonoro, muito verdadeiro. Naquela área, conhecíamos e éramos protegidos por cafetões, prostitutas e traficantes e as noites eram excelentes.
Durante este período houve a fusão da banda "Terceira Divisão" com o "Clones de Ludwig". Além de herdar o repertório da "Terceira Divisão", entrou para os vocais do "Clones de Ludwig", Getúlio Dutra, substituindo o vocalista Rogério Lima, que optou por cantar numa igreja evangélica e continua lá até hoje, seguindo sua fé e cantando cada vez melhor. Na formação final, além de mim, Ney Robson e Getúlio Dutra, tínhamos Edmilson Silva, o Eddy Batera, hoje considerado o grande baterista do DF. O primeiro ano da banda foi muito prazeiroso para  minha vida musical.
Num projeto paralelo ao "Clones de Ludwig", fui guitarrista e compus umas cinco músicas para os "Sobrinhos de Capone", dos meus amigos Chico Capone, Ronaldo Capone, Eli do Bomfim e Flávio Roberto Guimarães. Nesta banda estava realmente vigente o "do-it-yourself", já que nenhum deles sabia tocar instrumento algum, mas o som saía. Toquei em palco umas três vezes com a banda e gravei uma demo com eles, eu arranhando a guitarra e fazendo a linha do baixo.
O "Clones de Ludwig" ia bem. Tocamos bastante, fizemos programas de TV, ótimas gravações e ótimos shows, viajamos para tocar em BH, em SP, em cidades do interior de MG e GO, compomos muitas músicas que nem chegamos a apresentar. Mantenho este repertório inédito guardado com muito respeito. Depois de certo tempo juntos, veio o desgaste da convivência sem perspectiva. Tínhamos uma imensa dificuldade em lidar com os tais empresários musicais e com a pressão do Sr. Ruy Mello, ex-"executivo"  da extinta Polygram, para que fizéssemos músicas no estilo de um tal "Rock Brasília"... Todo mundo cansou de todo mundo e a banda debandou.
   Os Diklebs

Depois do "Clones de Ludwig", fiquei muito tempo sem tocar e nem compor. Então veio o convite do Marco A. (Marco Silva, também Marco Brô), baterista de diversas bandas, como Espaçonave Guerrilha, 5 Generais - parceiro fundador do famoso Teatro Rolla Pedra, junto como o Fernandez Dias - para montarmos, juntos com o Erivelton Grillo (guitarra e vocais) um projeto musical. Este projeto era a banda "Os Diklebs". Tocaríamos rocks brasileiros do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, versões em português, iê-iê-iês, jovem guarda e afins.
Tudo fluiu muito rápido e bacana, graças ao espírito de equipe que se instalou, à desenvoltura e boa vontade do Marco Brô e à disposição infinita do Erivelton Grillo. Em poucas semanas já estávamos com nosso próprio estúdio de ensaio, tocando por todos os lados do DF e viajando para outras cidades, numa agenda média de três shows semanais. Para mim era o máximo estar sempre tocando. Acabamos tendo a participação também do meu amigo guitarrista Ney Robson, que só veio a somar para o nosso som ficar mais dançante e divertido. Era bom tocar aquelas músicas, estar com o Marco, o Grillo e o Ney Robson, não ter a preocupação de resolver tudo sozinho, sentir que estávamos sintonizado enquanto banda e equipe de trabalho.

Depois de uns meses, me senti um peixe fora d'água tocando nos Diklebs. Tive uma "recaída de músico de Rock autoral", acompanhada de uma recaída alcóolica. Me alcoolizava sempre que podia, fiz um show sob efeito de litros de álcool e noutro só consegui tocar sentado. E eu pensava: - "Não estou mostrando o meu melhor, nem enquanto músico, nem enquanto pessoa. Não estou me sentindo bem tocando essas músicas. Talvez eu devesse compor umas músicas para a banda, propor uma outra direção", etc... Acabou que eu pedi para sair da banda. Deixei como herança duas músicas ("Just One Night" e "Fim de Semana") registradas no unico disco compacto gravado pelos Diklebs: "Os Diklebs Na Onda Beat".
Tempos depois comecei a tocar numa banda, "M'Jokin'", e a compor junto com o Jefferson Mota, um excelente compositor, inspirado, melódico e cheio de verve. Tínhamos uma casa alugada, com um estúdio disponível 24 horas por dia. Lá a gente encontrava, entre outros músicos bacanas de Taguatinga, Dillo Daraújo - na época era Dillo & Crocodilo Gang - e sempre tinha alguém fazendo um som por lá. Nesta época foram geradas as canções que estão no EP da banda "Elf Fire", que contem algumas coisas que eu escrevi.
De três anos para cá, não tenho me arvorado a tocar em bandas. Meu baixo não está empoeirado e nem com teias de aranha, mas... Depois de muito estudar produções audiovisuais, estou muito ligado em produção cinematográfica. Atualmente estou dirigindo e criando, junto com o Felix Amorim - ex-"5 Generais" e atual "Stoner Babe" - um filme com o nome provisório de "Stoner Babe: Rock, Estrada e Aventuras".
Durante uns dois anos estive contribuindo seriamente, de todas as formas que eu podia, para a banda "Blood Chip". "Blood Chip" é uma banda que eu acredito no som de Rock And Roll que ela produz e na qualidade das canções do amigo Barão (vocalista/compositor). Continuo apoiando "Blood Chip", mas de maneira informal, e estou finalizando o videoclipe da banda para a canção "Deep Down Blues", vencedora do Festival Caça Bandas 2011/2012, do produtor Gustavo Vasconcelos - GRV.
Ouço sempre o termo de auto-sugestão, neurolinguístico e de auto-ajuda: "Brasília é a capital do Rock". A  frase é como um mantra, um bordão para se repetir até que se convença que isto é aquilo. Ouvi dizer que "as pessoas vêem o que elas querem ver". Sempre tive um distanciamento respeitoso daquilo que um dia foi chamado "oficialmente" de "Rock Brasília",  e de suas "bandas da Colina" na metade dos anos 1980. Não curti, não curto, mas não faço campanha contra.
Atualmente, temos em Brasília, e no DF, mais banda de covers e duplas sertanejas do que qualquer outro tipo de atividade musical. Na verdade, o Rock não é um estilo de muita aderência a muitos músicos brasileiros, já que ele, o Rock And Roll, é genuinamente uma música estadunidense, aperfeiçoada pelos ingleses. Poucos de nós, e apenas aqueles que sofreram "a lavagem cerebral do Rock", desde a mais tenra idade, tem a capacidade de tocar e compor Rock And Roll de fato. Pois bem, para encurtar o texto: - Assim sendo, Brasília não é a capital do Rock. Talvez a capital do Rock seja em Londres ou em Los Angeles.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Marcos Assunção - Músico, Cantor, Compositor, Produtor e DJ).

Nasci em Caxias no Maranhão e sempre gostei de música. Mas, quando ganhei uma guitarra de brinquedo, aos 9 anos, acho que ali se acendeu uma chama.  O que eu me lembro é que lá no interior do interior do Maranhão eu ouvia o que vinha do canto das quebradeiras de coco babaçu à beira das cacimbas e das festas tradicionais, então era muita cantiga de bumba-meu-boi, João do Vale e Luiz Gonzaga.

Aqui em Brasília na década de 1970 nós morávamos na casa de uma tia e me lembro de acordar todo domingo ouvindo Roberto Carlos num programa de Rádio, que um primo mais velho escutava. Nas ruas e feiras de Ceilândia, via e ouvia muitas duplas de repentistas e emboladores. Nos rádios e vitrolas dos vizinhos ouvia muito Odair José, Fernando Mendes, Evaldo Braga, Antonio Marcos, Vanusa e Diana, entre outros. Tudo nessa vibe. Era isso que o povo mais ouvia e amava. Muito bom!

Algum tempo depois é que fui conhecer Zé Ramalho, Chico Maranhão, Xangai, Décio Marques, Elomar, Vital Farias, Quinteto Violado, Carlos Pita... Até chegar a James Brown, Michael Jackson, Fela Kuti, Salif Keita, Yellowman, Toots Hibbert, Bob Marley, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Frank Zappa... Acho que já ouvi de quase tudo um pouco nessa vida.

Em 1980 fui estudar na EIT e conheci uma turma que fazia arte por lá, teatro principalmente. Mas, logo descobri que teatro não era a minha. A galera fazia um laboratório meio esquisito.  De olhos vendados ficavam um tocando no outro, independente de que sexo era. Aquilo me causou um certo estranhamento. Lembro também que via um garoto tocando violão e cercado de meninas (não me lembro bem se o garoto era o Nema Antunes ou o Luciano Prates). Enfim, ali decidi que queria aprender a tocar violão pra me dar bem com as menininhas da escola também.

Na verdade eu comecei meio como produtor. Fazia umas ruas de lazer e concertos musicais com uns amigos lá no Setor “O”. Isso foi de 1982 à 1986. Na época, meu universo musical era mais para a MPB regional e meus contatos eram com essa turma. Vou tentar lembrar alguns: Bando Desemprego (Gagá, Beto Lôra e Silvão), Mário Lacerda, Itiquira (Nancy, Gilson, Quinho, Betão, Margô e Diró), Feira Livre (Batata e Uchoa), Terra Molhada (Rai e Bodão), Norte e Sul (Mongol, Luciano e Eduardo Pitombo), Théo Gomes, Carlinhos Gomes, Robson Rodrigues, Bilia, Cacau, Zelito Passos, Vozes e Acordes (Marinho Lima e Boréu)...

Tinham também os poetas: Pezão, Paulo de Tarso, Paulo Kauim, Natinho, Cacá, Dedé, Turiba, Jorge Amâncio, Zunga, Soter...  Além da turma do teatro: Grupo Retalhos, Esquadrão da Vida, Udi Grudi, Nilson Rodrigues, Nivaldo Ramos, Miquéias Paz, Miltinho, PP, Chico Simões, Zé Regino, Marcinho (Botequim Blues), Shirley, Rose, Carlinhos Babau, Mangueira Diniz e Humberto Pedrancini, entre outros.

Mas a primeira vez que pisei no palco para show meu, foi no início de 1985 no Teatro Rolla Pedra com o grupo Bando Desemprego, do qual fiz parte antes de formar a banda Afrodisia em 1987.

A partir daí eu comecei a ouvir os “rumores” de bandas de rock e outros estilos, como: Detrito Federal, 5 Generais, Finis Africae, Pânico, Beta Pictores, Peter Perfeito, Mata Hari, Filhos de Menguele, Nexo Explícito, Capacetes do Céu, Mel da Terra, Akneton, Vagabundo Sagrado, Pravda, Sorriso Oculto, Falange do Medo, Diklebs, Equatorial, Argumento Z, Ária Tribo, Renato Matos, Sinal de Fumaça, Trem das Cores, Asé Dudu, Obina Schock, Fama, Oficina Blues, Ligação Direta, Adriano Faquini, Fernando Corbal, Beirão, Cassia Eller, Janete Dornelas, Eduardo Rangel, Invoquei o Vocal, Célia Porto, Suzana Mares, Rubi, Liga Tripa, Paraibola, Coisa Nossa, Choro Livre, Clodo, Climério e Clésio, Terno Elétrico, Elffus e Banda da Terra, para citar alguns. Além da turma do Rap que já sinalizava sua força enquanto movimento.

Acho que a cena independente do DF na época passava por um período de renovação, misturando velha e jovem guarda num balaio só. Com certeza eu era da jovem.

Dois shows me fizeram muito querer subir no palco e fazer algo diferente, não me lembro do período exato, mas foi depois que vi os shows do Arrigo Barnabé (Clara Crocodilo) e Itamar Assumpção na Funarte pelo Projeto Pixinguinha.

Bando Desemprego - Foi a minha primeira experiência musical em grupo. Eu tava começando a aprender violão e eles compraram um de 12 cordas, falaram que ninguém iria tocar e perguntaram se eu queria tocar e entrar para o grupo. Disse que sim na hora. Como é bom ter 20 anos e medo de nada. O meu primeiro show com eles foi no Teatro Rolla Pedra.  Me lembro também que eles já curtiam muito o Liga Tripa e me apresentaram algumas canções dos caras. Tocamos  em muitos lugares como Clube Primavera, CIT, Escolas e alguns festivais (a gente até conseguiu alcançar uns 3º ou 2º lugar). Mas era massa.

Um pouco antes ou paralelo a esse período eu formava a dupla "Marcão e Tatinha", fizemos apenas dois ou três shows. Um deles aconteceu no Teatro Galpãozinho da 508 sul pelo projeto "Feira de Música", que era produzido pelo Néio Lúcio, se não me falha a memória. Lá tivemos os nossos "15 minutos de fama" e logo fomos para o Bando Desemprego.


Banda Afrodisia - Foi fruto de um amadurecimento natural e loucura do Fernandez, que me incentivou a montar um trabalho próprio e com uma proposta mais ousada. Ele até tentou me ajudar a arranjar alguns músicos para me acompanhar. Mas, o Trem das Cores acabou indo acompanhar o Renato Matos. Então arregacei as mangas e fui juntando a galera. O Quinho (percussionista) me ajudou a convidar o Bené Batera e o Betão, que queria porque queria tocar guitarra. Mas, eu já tinha o Mano e encasquetei que ele tinha a cara do baixo. O cara acabou se firmando no instrumento e pode se considerar um dos baixistas de reggae que mais tem a pegada roots aqui em Brasília. Pelo menos que eu conheça.

Formada em 1987 e extinta em 1997, a banda Afrodisia foi uma das primeiras a disseminar o reggae no DF e a introduzir uma linguagem libidinosa na temática de suas letras.
Só conseguimos gravar uma "DEMO" com 5 músicas e tiragem de 500 fitas K7. Só tenho 2 exemplares, imagino que o restante tenha sido vendido e/ou distribuiído por aí.
No link http://www.youtube.com/watch?v=7aOoWgJBses dá para ver uma amostra da banda ao vivo. Começa com um "clipzinho" meio tosco, mas, depois tem a banda tocando ao vivo. A formação era a mesma que gravou a "demo", Edu Brito (guitarra), Betão (baixo), Marco Túlio (teclado), Ocrão (bateria) e Hélio Franco (percussão). Na fita, ainda contamos com as participações de Alciomar Oliveira (trombone), Marcelinho Souza (trompete) e Marcelo Bernardi (teclados).

Brasília é a capital de todos os sons. Desde sempre rola de tudo aqui nessa cidade. Pode até ser que em um determinado momento existiu mais bandas de rock do que de outros estilos. Hoje tem rolado muito mais grupos de choro e samba, por exemplo. O importante é que cada estilo que vai chegando tem o seu lugar e alguém pra levar um pouco mais adiante.

Atualmente faço produção de colaboro como letrista nos trabalhos da minha esposa, a cantora e compositora Georgia W. Alô, e dos meus filhos com a banda 10ZER04 além do recém formado duo de música eletrônica Lua Elétrica & Satélites Graves, com o que eles chamam de Raptrônico.

Às vezes sou contratado também para coordenar a produção de alguns shows e eventos com artistas nacionais e locais. Além de discotecar em festas produzidas por amigos, tocando música regional nordestina (Forró Tradicional, Coco, Maracatu, Boi, Baianado, Chulas...) e/ou Black Music (Soul, Funk, Disco).

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Apresentação.

Blog contando ou registrando a História da Música de Brasília, abrangendo todos os estilos musicais aqui manifestados que, por sinal, são bastante diversos.

Polêmicas à parte, Brasília não é mais a “Capital do Rock”.  Hoje temos trabalhos que conquistaram destaque nacional e internacional, no rock com suas múltiplas variações, no chorinho, no jazz, no erudito, no sertanejo de raiz, no sertanejo pop, isso apenas num rápido olhar em volta.

Mas, o rótulo “Capital do Rock” ainda está presente no inconsciente coletivo nacional, ainda que contestado por estados como São Paulo e Rio de janeiro.

Na verdade isso data do chamado boom dos anos 1980, como conseqüência do esforço coletivo das gravadoras que focaram no gênero (rock e pop), para impulsionar o mercado fonográfico.  Aí veio a instituição do “jabá” e etc.. mas, isso já é outra conversa.

O fato é que o “Rock de Brasília” já existia desde os anos 1960 como em todo o mundo, e parte disso está registrada em discos de vinil para que não haja dúvidas.

Nos anos 1970 o Pop e o Progressivo também marcaram sua passagem por aqui, quando os shows aconteciam na Funarte, Colégio Elefante Branco, Caseb, Ginásio do Colégio Marista e outros.

Mas, nem só de Rock viveu Brasília, inaugurada em plena Bossa Nova. A UnB e a EMB garantiram o fomento do Erudito. Que o diga o Maestro Jorge Antunes, com destaque na Europa da sua música Clássico-Eletrônica, produzida no campus da UnB com parcos recursos técnicos e muita criatividade.

Para encerrar essa visão panorâmica do passado citemos as Marchinhas dos carnavais candango, compostas e gravadas aqui (Macaca Velha, Coração de Jacaré...), o Reggae de Renato Mattos e os populares pejorativamente chamados de Brega como Roberto Ney, Edelson Moura, Márcia Ferreira (Chorando Se Foi) e Sertanejos Autênticos como Advogado e Engenheiro, Zé Mulato e Cassiano e, bem vou parar por aqui, mas há muito o que contar.

Segundo os Historiadores, o passado deve ser estudado para nos ajudar a compreender o presente. A História examina o processo de mudanças ocorridas na sociedade além de se ocupar daquilo que, mesmo com o passar dos anos, não mudou, ou seja compreender também as permanências.

Esse Blog é o início da materialização (mesmo virtual) do sonho de registrar a História da música de Brasília (DF). Antes de mais nada, quero dizer que “enxergo” Brasília como o Distrito Federal, e os fatos demonstram que a música de Brasília não foi produzida apenas no Plano Piloto.

Tenho observado alguns trabalhos em que se pretendem contar a História do Rock de Brasília e o colocam como uma manifestação exclusiva da Elite Sociocultural. Posso afirmar com certeza pois eu presenciei, que o Rock de Brasília não nasceu na Colina da UnB.

Preciso esclarecer que não estou voltado apenas para o Rock e sim para a Música.  Hoje eu a vejo como uma manifestação capaz de despertar emoções variadas como: melancolia, euforia, sensação de paz, aproximação de Deus ou do outro e porque não? rir e, até dar verdadeiras gargalhadas.

Um tempo atrás, se me perguntassem que tipo de Música eu gostava eu tornaria minha a resposta do meu amigo e músico Teddy Amorim “gosto de rock e pouquíssima coisa a mais”. Sem contar que dentro do próprio Rock em alguns momentos elegi uns estilos e classifiquei outros como “lixo”, mesmo já tendo sido o eleito de outrora.

Depois que promovi a “abertura cultural musical” - se assim posso dizer – não tenho problemas com nenhum estilo de Música. Apenas me submeto às emoções que a Música específica (ou letra) me causar, a qual pode ser inclusive de repulsa total. Nem assim condeno nenhum estilo musical como um todo.

Voltando ao Blog, a idéia é abordar essa rica História da Música de Brasília contada por quem a fez ou a faz: músicos, compositores, produtores, donos de estabelecimentos, jornalistas, radialistas, produtores culturais e também o público consumidor que foi atingido pela manifestação musical.

Adotarei para isso uma metodologia encadeada em elos do presente para o passado como se navegássemos em um rio da sua desembocadura até à nascente.

Desde já agradeço a todos que desejem colaborar com essa empreitada